segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A Cor na Arquitetura 2 (*post original 27/01/2017)


No último post, quando eu falei d’A Cor na Arquitetura’, cheguei a comentar que não é preciso ser um artista plástico para incluir a cor em projetos, fachadas, muros, enfim, onde quer que ela se encaixe

Mas isso não impede que artistas plásticos – e os que gostariam de ser artistas plásticos – utilizem a arquitetura como mais um suporte para a sua arte. Sim, arquitetos muitas vezes também são (ou têm a vontade de ser) artistas plásticos, e isso não deve ser motivo de vergonha, é claro. Tanto os arquitetos podem dar vazão à arte na arquitetura, como profissionais das artes plásticas podem ser chamados a contribuir – lembrando que projetos arquitetônicos são multidisciplinares e exigem de fato muitas colaborações específicas.

Para ficar mais claro, não estou falando de grafites, pintura mural, nada disso (farei um post depois sobre). Estou falando de uma arte que se incorpora ao projeto, às vezes tão bem que não se pode dissociar uma de outra. Estou falando da arte que se integra e ilumina a arquitetura.

Dois exemplos abaixo:


O primeiro é um mural, ou painel de azulejos, que está no muro externo de uma biblioteca, no caso a Biblioteca Álvaro Guerra, no Alto de Pinheiros. Não foi feito junto com o projeto, mas faz referência ao uso desse espaço, por isso utiliza o símbolo dos livros, e livros bem coloridos, para dar a ideia de um acervo variado e alegre. Eu não sabia de quem era, mas descobri que é de AntonioSDesigner, o que se pode ser verificado no local. Nesse caso as artes plásticas servem como uma indicação de uso do espaço, mostram que é uma biblioteca, e despertam a curiosidade de quem passa – a pé ou de carro.




O segundo é um edifício comercial, à Rua Harmonia, na Vila Madalena. O espaço se destaca pelos brises soleils multi-coloridos, e é claro que nesse caso as cores precisaram ser muito bem escolhidas – para compor um mural de fato artístico. Não por acaso, o local abriga lojas de arte, como a Democrart, uma espécie de galeria de arte ‘democrática’ com fotografias e reproduções acessíveis a todos os bolsos. E quem fez esse projeto? A informação não estava imediatamente disponível – ou seja, às vezes os melhores projetos não são feitos por um nome super conhecido, o que é mais um motivo para que arquitetos jovens se arrisquem mais.

Mas, pesquisando mais a fundo (como um jornalista, veja só!), descobri que é um projeto de Luiz Alcino Teixeira Leite, da LATL Arquitetura (um escritório que existe desde 1959!), e de Márcia Gullo, da Ilha Arquitetura. Portanto, é como eu disso no início: nada melhor para um projeto do que uma bela parceria. Palmas para eles.

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A Cor na Arquitetura (post original 22/01/2017)



Algo difícil de colocar na cabeça dos alunos é o papel da Cor na Arquitetura. A cor tem um significado, mas a primeira lição é saber que existem vários significados para cada cor. Não existem cores com significados só positivos ou só negativos. Uma construção toda branca nos transmite um quê de Éden, um espaço purificado de emoções conflituosas, um espaço de paz e tranquilidade. Mas ela também poderia parecer um hospital – frio, esterilizado, sem vida.  E, de quebra, um espaço que induz à solidão.

Contrabalançar esses significados é que seria, então, o desafio.

Só que, na verdade, estamos um passo atrás. Quase ninguém chega a se incomodar muito com a cor, sendo essa uma preocupação, talvez, para decoradores, ou para o próprio dono do imóvel. E, claro, as cores serão preferencialmente neutras, para não ‘agredir’ a paisagem.

E com isso se perde um grande potencial que a arquitetura nos oferece. Sim, é verdade que não conseguiríamos viver numa cidade em que todos os prédios fossem coloridos: amarelo, vermelho vivo, azul bebê, verde limão, como em um baile neón de carnaval. Seria um excesso de estímulos visuais que nos incomodaria. Assim como a rua São Bento no centro de São Paulo já foi expurgada do excesso de placas e de propaganda porque a arquitetura, nesse caso, desaparecia.

Mas é possível colocar cor em um projeto e fazê-lo despertar (mais) empatia. É possível quebrar a monotonia visual. Vejamos os exemplos.


Acima, está o Edifício Comercial João Moura, do Nitsche Arquitetos Associados. Como podemos ver na maquete (logo acima), o edifício real tem até mais cor e vibração. Essas cores não dizem respeito aos usuários do prédio: é uma inserção de cor – e arte – na paisagem cinzenta. Mas também se pode ver que os usuários do prédio foram considerados nesse projeto: os terraços verdes que se abrem para um espaço amplo de não-barreiras e contemplação.




Outro edifício é o Pop Madalena, da Andrade Morettin Arquitetos Associados, que além de inovar com um brilhante RASGO no meio do edifício, tornando-o permeável à paisagem existente, completa com brises coloridos (móveis!) que já foram apropriadamente chamados de ‘Cromatismo em Movimento’. Não sabemos se o verde e o amarelo expressam certo ufanismo. O certo é que o edifício (em forma de L) que integra o comercial e o residencial (em andares distintos) é um projeto INOVADOR em vários aspectos.




Mas não é preciso ter medo!  Usar a cor em um edifício não significa que seja preciso recorrer a um artista plástico. A Cor desperta nossas emoções, a Cor traz vida, a Cor é vida. Assim, mesmo nesse exemplo da Estação Fradique Coutinho do metrô de São Paulo, o uso da cor (que está longe de ser uma obra de arte) é extremamente positivo, porque tira o usuário do espaço de sua passividade, provoca uma reação – e nesse caso a reação é puramente ‘sensorial’ já que essas portas pintadas em várias cores não são uma peça de publicidade – como as habitantes das metrópoles estão acostumados a ver. Eles (nós) podem contemplar a cor sem precisar receber uma mensagem que os induzam a comprar (compre, compre, compre!) alguma coisa.
A Cor deveria fazer parte da paisagem urbana.  Mas para isso é preciso que os arquitetos (e futuros arquitetos também) não tenham medo dela.

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Começando com um exemplo ruim (*post original 7/12/2017)




Esse prédio, localizado na Vila Madalena, é um bom exemplo de arquitetura ruim. A fachada, recortada em váios volumes, lembra um tabuleiro - monótona e na verdade mais feia do que um tabuleiro. A partir do Modernismo, pode-se criar um visual quadriculado na Arquitetura, jogar com as cores, os contrastes, lembrando a arte abstrata geométrica.
A proposta 'geométrica' no entanto, precisa ser assumida e bem realizada. A pureza das linhas retas deve ser, em geral, preservada. Detalhes, reentrâncias, esquadrias mal desenhadas, tudo isso não favorece a beleza racional da ortogonalidade (ortogonais são as linhas perpendiculares do gráfico-eixo X e Y, como aprendemos na escola).

Olhe bem. O prédio tem vários volumes em posições distintas: à frente, os pilares de sustentação verticais, mais atrás, as linhas horizontais das lajes; mais atrás ainda, o gradil dos terraços em alumínio e vidro; mais recuados, outros pilares semi-escondidos; depois, duas paredes em posições diferentes, uma delas determinando a área do terraço. E um inexplicável FOSSO central no meio do prédio. Um excesso de informações que não se junta. Antigamente, tentava-se aglomerar vários apartamentos na planta do mesmo andar, e o único jeito era criar um fosso de ventilação para banheiros, áreas de serviço etc. Um espaço sempre feio. Mas esse prédio conseguiu a proeza de colocar um fosso na fachada principal. Espremido, dá a sensação de claustrofobia, um espaço sem função. A árvore tenta disfarçar esse espaço perdido, mas a função do paisagismo não é essa. 

O volume sobre o prédio lembra um bolo de casamento. Os pilares não tem um 'fim', se perdem aqui e ali, soltos no ar, parecem sem 'acabamento'. Concluímos que esse excesso de detalhes, de planos recortados, as cores sem vida ou contraste, resulta num dos piores exemplos de fachada de prédio que podemos encontrar em São Paulo.