Grafite de Kobra - FNAC Pinheiros |
Você olha de
um lado e vê um. Anda alguns passos e logo vê outro. Ali, naquele canto, também
tem um, e mais adiante no portão há outro. O GRAFITE (também chamado de
Grafitti ou Grafito) explodiu. Será que todos os grafiteiros estão apostando no
sucesso à la KOBRA, o nome mais conhecido nesse meio, que tem grafites em
vários países?
Vamos
lembrar: o Grafite surgiu na década de 70 nos EUA como um grito de protesto,
uma necessidade de expressão individual.
Sim, as metrópoles são opressivas, e de alguma forma a pressão precisava
de um escape. As pichações que se resumem a um palavrão ou xingam políticos são
da mesma família, mas esses primos têm ambições diferentes: os pichadores
querem apenas protestar, os grafiteiros querem ser artistas. E haja espaço para
acomodar todos eles. As paredes cegas de edifícios de São Paulo vêm sendo
usadas para essa expressão artística, o que envolve uma pequena ironia: o que
era uma manifestação de protesto passa a custar caro, exigir mão de obra
especializada, andaimes etc. Ou seja, só poderia ser feito por um revoltado
endinheirado. Talvez por isso quase não sejam mais protestos, mas
tão-somente desenhos muito bem feitos.
Grafite de Paulo Ito para a Copa do Mundo de 2014 |
No entanto, um
grafiteiro como PAULO ITO, por
exemplo, faz sua arte muito benfeita a partir de uma crítica social,
preservando o sentido original do grafite, e é por isso que a imagem acima (pungente),
ganhou projeção mundial, antes da Copa
de 2014 no Brasil.
Os grafites
se multiplicam e seria impossível contar ou classificar os melhores, os
artistas que realmente se destacam. Mas podemos fazer uma análise mais
genérica.
Chama a
atenção o fato de que esses artistas, ao escolher uma parede cega, não façam
nenhuma referência ao entorno, e nenhum esforço de integrar o desenho na
paisagem circundante. Trata-se apenas de uma superfície, como uma tela, que
pode ser pintada. Ou seja, do ponto de vista arquitetônico, não acrescentam
nada, não se misturam à dura poesia
concreta dos edifícios, mas criam uma realidade própria. Com muita sorte,
poderia acontecer de alguns serem associados ao edifício ou região onde estão. “Fica
ali, no prédio da sereia com flores”.
Grafite de Bruno Paes - belo desenho sem relação com o entorno |
Em São
Paulo, houve uma grande polêmica, quando o prefeito João Dória mandou apagar
grafites com tinta cinza. Os protestos porém diminuíram quando a prefeitura
começou a pagar os grafiteiros para fazer seu trabalho em áreas específicas.
Talvez o sonho de ser um artista reconhecido (e pago) tenha se realizado em
muitos casos.
Grafite na rua Cardeal Arcoverde: pago pela prefeitura |
Arte é arte,
e arte geralmente provoca reações. Os grafites atuais têm originalidade e
beleza suficiente para produzir curiosidade e uma emoção estética. Mas que
seria melhor que eles estivessem ‘fundidos’ na paisagem do entorno, isso seria.
Veja só o exemplo abaixo de Carlão
Bernini: é um dos poucos exemplos em que o desenho (colorido ao extremo,
aliás), conseguiu se fundir ao prédio, pois acompanha toda a extensão do
edifício que podia ser pintada, levando em consideração esses pequenos absurdos
que são as portas e janelas.
Prédio grafitado de Carlão Bernini na Pedroso de Moraes, Pinheiros |
E, para
concluir, vamos lembrar que grande parte dos grafites atuais é monumental, ao ocupar imensas paredes
de edifícios. Isso faz com que se perca a relação com o pedestre, o homem, a
mulher, a criança, que passa ao lado. Nesse sentido, os grafites de Júlio Barreto mantêm a proporção ‘humana’ original (para
isso ele se vale de personagens), e
com isso mantêm uma relação de proximidade e cumplicidade com os observadores,
como se fizessem referência aos princípios dessa arte tão tipicamente urbana. A humildade e a simplicidade, afinal, têm os
seus benefícios.
Grafite de Júlio Barreto: escala humana |
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Lindos desenhos!! amo!!
ResponderExcluirótimas considerações!! o grafite está 'deslocado' em muitos casos..
ResponderExcluirmeu nome não apareceu acima, não sei por que.
ResponderExcluirmuito interessante...
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