terça-feira, 29 de maio de 2018

Arte Provisória




Analisamos em outros posts a rica (e nem sempre valorizada) relação entre Arte e Arquitetura. Hoje vamos falar da relação (ainda mais delicada) entre Arquitetura e Arte Provisória.
Arte Provisória é uma contradição em termos. A arte adquiriu um status tão alto que imaginar algo que tenha uma curta duração entra em conflito com as expectativas, as tradições, os conceitos difundidos sobre Arte. Sim, existem artes provisórias como o Teatro e a Dança, mas estamos falando da imagem, algo que pode ser capturado e guardado para sempre.
A Arquitetura, nem se discute que é permanente, por isso associá-la a manifestações sem compromisso com a permanência pode ser arriscado. O SESC PINHEIROS assumiu esse desafio, e o escritório NITSCHE ARQUITETOS o executou.
O paredão da esquerda na entrada do Sesc Pinheiros vem abrigando há tempos murais transitórios, que duram pouco tempo. Naturalmente, pode-se errar ou acertar a mão, e os artistas podem dialogar com o entorno — ou não. Sendo assim, cada obra é um caso à parte. No caso atual, essa obra faz parte de uma mostra — Arquite-tô — que com oficinas, peças, exposições, lançamentos discute o papel da Arquitetura no mundo atual.

A proposta do Nitsche Arquitetos — ou de Lua Nitsche, Pedro Nitsche e João Nitsche — foi fazer referência a um perfil típico da paisagem paulistana, ainda que pouco reconhecido: o Pico do Jaraguá, o ponto mais alto da cidade, o que também traz à discussão a verticalização do espaço urbano.
Só que nesse caso a transitoriedade foi assumida de peito aberto, e o resultado é excelente do ponto de vista de integração ao prédio. O perfil é formado por trenas metálicas dispostas com diferentes comprimentos, e as caixas cor-de-laranja que as envolvem fazem parte da composição. Ou seja, a ‘medida’ da altura é o que está em jogo aqui. (Em outro post, já falamos da desmedida verticalização que parece tomar conta de São Paulo nos últimos anos.)  O espectador é levado a analisar essa delicada composição, o uso de um material inusitado, sem entender a princípio os seus porquês. Ou seja, ele tem de parar para pensar, mesmo. E a obra é tão provisória que o vento estragou uma parte, bagunçando as trenas metálicas e pedindo um ‘restauro’ rápido. Dá para entender por que assumir a ‘Arte Provisória’ é complicado?

Só podemos esperar que outras iniciativas corajosas como essa apareçam — para que a gente possa analisar mais uma fez como fica a questão da Arte no espaço urbano.


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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Renovação Urbana



Painel de azulejos 'Asa de Morcego' de AntonioSDesigner


Muito se especula sobre o custo de uma transformação urbana, uma reforma que transforme as partes mais feias e deterioradas da cidade (qualquer cidade) em áreas atraentes, belas e convidativas. Para quem mora, isso significa ter mais qualidade de vida (sim, o estético tem a ver com qualidade de vida) e para quem apenas passa pelo local isso pode ter significados ainda mais amplos, pois cria outra relação entre o cidadão e a cidade. Uma outra relação que poderia ser de respeito e orgulho – a ideia de que podemos e devemos preservar esse espaço.

Acompanhando um trabalho específico aqui na Vila Madalena, posso agora afirmar que o custo para ter uma cidade mais bonita é baixo. O painel de azulejos Asa de Morcego, projeto de AntonioSDesigner, modificou um ponto de grande circulação de pessoas, pois está na saída do metrô Vila Madalena, na rua Marinho Falcão, e sua instalação foi rápida. Como se pode ver na foto abaixo, um local que parecia abandonado (e pichado, já falamos aqui sobre pichações) agora atrai atenção e olhares, enfim, cumpre uma função estética. O local já é bastante comercial, com bares, lanchonetes, mas esse painel de azulejos está instalado numa casa residencial, sem nenhuma intenção de atrair o consumidor.



Esse aliás é um dilema das cidades: são espaços para o cidadão ou para o consumidor? Se todas as paredes e muros são cobertos por propaganda, a relação que se estabelece é simplesmente a de servir como suporte ou base para o encontro de vendedores e compradores. Mas nós, arquitetos, certamente preferimos acreditar que a relação deve ser com o espaço, uma relação que deve ser estética e vivencial – sem passar pelo comercial. E isso deve ser estimulado.
Aqui em São Paulo, os outdoors foram proibidos, reafirmando a ideia de que essa relação não deve ser puramente comercial.
Se a prefeitura de São Paulo apostasse mais na renovação urbana, muitos prédios do centro poderiam, por exemplo, receber um incentivo (ex: redução do IPTU) para realizar reformas ou pinturas que renovassem o visual atualmente deteriorado. 
Painéis de azulejos, pintura, grafites, há muitas possibilidade de embelezamento – e muita gente disposta a fazer isso. Mas aparentemente os políticos hoje estão mais preocupados com outros valores ($$$) do que com a mera e inútil beleza que podemos encontrar em cada esquina.

Se houvesse mais projetos como o mostrado aqui, não há dúvida, teríamos mais qualidade de vida, e mais respeito entre os cidadãos e entre o cidadão e a cidade.


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