quinta-feira, 15 de março de 2018

A Explosão do Grafite




Grafite de Kobra - FNAC Pinheiros

Você olha de um lado e vê um. Anda alguns passos e logo vê outro. Ali, naquele canto, também tem um, e mais adiante no portão há outro. O GRAFITE (também chamado de Grafitti ou Grafito) explodiu. Será que todos os grafiteiros estão apostando no sucesso à la KOBRA, o nome mais conhecido nesse meio, que tem grafites em vários países?

Vamos lembrar: o Grafite surgiu na década de 70 nos EUA como um grito de protesto, uma necessidade de expressão individual.  Sim, as metrópoles são opressivas, e de alguma forma a pressão precisava de um escape. As pichações que se resumem a um palavrão ou xingam políticos são da mesma família, mas esses primos têm ambições diferentes: os pichadores querem apenas protestar, os grafiteiros querem ser artistas. E haja espaço para acomodar todos eles. As paredes cegas de edifícios de São Paulo vêm sendo usadas para essa expressão artística, o que envolve uma pequena ironia: o que era uma manifestação de protesto passa a custar caro, exigir mão de obra especializada, andaimes etc. Ou seja, só poderia ser feito por um revoltado endinheirado. Talvez por isso quase não sejam mais protestos, mas tão-somente desenhos muito bem feitos.

Grafite de Paulo Ito para a Copa do Mundo de 2014
No entanto, um grafiteiro como PAULO ITO, por exemplo, faz sua arte muito benfeita a partir de uma crítica social, preservando o sentido original do grafite, e é por isso que a imagem acima (pungente), ganhou projeção mundial, antes da Copa de 2014 no Brasil.

Os grafites se multiplicam e seria impossível contar ou classificar os melhores, os artistas que realmente se destacam. Mas podemos fazer uma análise mais genérica.

 Chama a atenção o fato de que esses artistas, ao escolher uma parede cega, não façam nenhuma referência ao entorno, e nenhum esforço de integrar o desenho na paisagem circundante. Trata-se apenas de uma superfície, como uma tela, que pode ser pintada. Ou seja, do ponto de vista arquitetônico, não acrescentam nada, não se misturam à dura poesia concreta dos edifícios, mas criam uma realidade própria. Com muita sorte, poderia acontecer de alguns serem associados ao edifício ou região onde estão. “Fica ali, no prédio da sereia com flores”.

Grafite de Bruno Paes - belo desenho sem relação com o entorno
Em São Paulo, houve uma grande polêmica, quando o prefeito João Dória mandou apagar grafites com tinta cinza. Os protestos porém diminuíram quando a prefeitura começou a pagar os grafiteiros para fazer seu trabalho em áreas específicas. Talvez o sonho de ser um artista reconhecido (e pago) tenha se realizado em muitos casos.

Grafite na rua Cardeal Arcoverde: pago pela prefeitura
Arte é arte, e arte geralmente provoca reações. Os grafites atuais têm originalidade e beleza suficiente para produzir curiosidade e uma emoção estética. Mas que seria melhor que eles estivessem ‘fundidos’ na paisagem do entorno, isso seria. Veja só o exemplo abaixo de Carlão Bernini: é um dos poucos exemplos em que o desenho (colorido ao extremo, aliás), conseguiu se fundir ao prédio, pois acompanha toda a extensão do edifício que podia ser pintada, levando em consideração esses pequenos absurdos que são as portas e janelas.

Prédio grafitado de Carlão Bernini na Pedroso de Moraes, Pinheiros 
E, para concluir, vamos lembrar que grande parte dos grafites atuais é monumental, ao ocupar imensas paredes de edifícios. Isso faz com que se perca a relação com o pedestre, o homem, a mulher, a criança, que passa ao lado. Nesse sentido, os grafites de Júlio Barreto  mantêm a proporção ‘humana’ original (para isso ele se vale de personagens), e com isso mantêm uma relação de proximidade e cumplicidade com os observadores, como se fizessem referência aos princípios dessa arte tão tipicamente urbana.  A humildade e a simplicidade, afinal, têm os seus benefícios.
Grafite de Júlio Barreto: escala humana


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